Fonte: Rafael Mesquita, da Ascom/UFPE
Uma nova arma no combate à dengue está sendo desenvolvida pelo Departamento de Química Fundamental (DQF) da UFPE: um larvicida inédito e livre de toxidade para o ser humano. A descoberta é fruto de um esforço conjunto entre os grupos de pesquisa Química de Síntese, Química Computacional e Ecologia Química do DQF, que, há três anos, vêm aperfeiçoando uma nova classe de compostos sintéticos com grande potencial no combate ao Aedes aegypti. Essa classe é promissora na sucessão dos larvicidas sintéticos usados atualmente, contra os quais as larvas do mosquito já apresentam imunidade.
O novo larvicida já é o 10º desenvolvido pelo DQF desde 2007 e também o mais eficiente até o momento. Testes realizados mostram que ele é dez vezes mais letal contra as larvas do mosquito que seus antecessores: sua LC50 (concentração necessária para matar 50% das larvas) é de 2,2 partes por milhão (ppm), contra 25 ppm das substâncias anteriores. A professora Daniela Navarro, chefe do grupo de Ecologia Química, acredita que a recente descoberta cuja patente está em andamento é bastante promissora. Ela possui atividade larvicida muito melhor que as outras moléculas patenteadas anteriormente e tem uma via sintética que é possível de ser realizada em grande escala. Estudos de toxicidade serão realizados e acreditamos que ela não apresentará toxicidade ao homem nas concentrações de uso, o que demonstraria a possibilidade desta ser aplicada como larvicida no combate ao mosquito da dengue, afirma.
Foi a partir da análise quantitativa entre a estrutura química e a atividade biológica estudo que recebe o nome de QSAR dos nove compostos larvicidas anteriores que a equipe de pesquisadores conseguiu desenvolver a molécula em questão, mais poderosa e complexa. Do mesmo modo, a descoberta atual abre ainda mais possibilidades de aprimoramento, segundo ela. Essa nova molécula abriu uma nova perspectiva de estudo, porque, como ela é sintetizada de uma maneira diferente, já idealizamos outros compostos baseados nela, para fazer um outro estudo de QSAR para baixar a concentração de 2,2 ppm para 0,2 ppm, relata a professora Daniela Navarro. Ela prevê que, a partir da estrutura da molécula atual, um outro grupo de nove compostos inéditos, ainda mais eficientes, poderá ser elaborado dentro de dois anos.
PIONEIRISMO Todos os dez larvicidas desenvolvidos pelo DQF pertencem à família dos 1,2,4-oxadiazóis, uma série de ácidos que até então só era conhecido por suas aplicações farmacológicas. Nunca foi publicado anteriormente um estudo sobre a atividade larvicida frente ao Aedes aegypti para essa classe de compostos, explica a pesquisadora, sobre o caráter inédito das pesquisas feitas e das patentes registradas subsequentemente.
Os compostos elaborados a partir dos 1,2,4-oxadiazóis ainda não se igualam em letalidade ao larvicida atualmente usado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), o Temefós, cuja LC50 é de 0,01 ppm. Entretanto, em todo o País, estão sendo registrados casos de gerações do Aedes aegypti resistentes à ação desse larvicida, que, desde 1967, tem sido usado no combate aos vetores da dengue e da febre amarela. Se você coloca o Temefós e as larvas não estão morrendo completamente e outras estão sobrevivendo, então você vê que ele não é mais tão eficiente quanto era antes, aponta Daniela Navarro. Além disso, um estudo realizado pelos Departamentos de Biofísica e Biometria e de Bioquímica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) indica que o Temefós pode ser mutagênico e genotóxico para o ser humano, isto é, causar lesões no material genético, em concentrações similares às usadas no combate ao Aedes aegypti.
Os ácidos 1,2,4-oxadiazóis, em contrapartida, não apresentam genotoxidade ao homem nas concentrações usadas para atividade larvicida; sendo, inclusive, substâncias com propriedades conhecidamente analgésicas, antiinflamatórias, antifúngicas e antibacterianas. Segundo a professora Daniela Navarro, as perspectivas para essa nova família de substâncias são animadoras. É um grupo de moléculas muito interessante porque não apresenta, a princípio, problemas de toxidade ao homem, e mata as larvas do mosquito, afirma.
A pesquisadora também destaca a importância do fato de que esses larvicidas são patentes inteiramente brasileiras, diferentemente do Temefós, que é adquirido no exterior para ser formulado nos laboratórios nacionais. O Brasil não tem tradição em patentear. Essa é uma classe que tem que ser preservada, que temos de estudar para chegarmos em compostos bem eficientes e proteger isso porque é uma tecnologia que o Brasil está desenvolvendo, e nenhum outro país está. Porque, na verdade, a dengue é um problema nosso, conclui.
ALERTA Segundo o Ministério da Saúde, 16 estados brasileiros estão sob risco de sofrerem uma epidemia de dengue em 2009, dentre eles Pernambuco. Quatorze capitais já estão em estado de alerta para o verão. Nessa época do ano, o número de casos de dengue é notoriamente maior por causa do calor e da chuva, que propiciam o desenvolvimento das larvas do mosquito. Só em 2008, mais de 734 mil dos 760 mil casos registrados ocorreram entre os meses de janeiro e agosto.
Mais informações
Professora Daniela Navarro
(81) 2126.7468
dmafn@ufpe.br
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